quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O Lado Selvagem

ou, "Alexander Supertramp"


01:05...
sentado no chão da sala, o sofá serve de encosto...
a Jazz dorme em cima de livros numa prateleira...
ouvimos Ella Fitzgerald...

Há muito, muito tempo que um filme não me tocava assim.
Sociedade, família, juventude, natureza, idealismo, fuga, solidão...
Planeava vê-lo desde que soube da estreia nos estados unidos.

Para mim ter a oportunidade de rever Sean Penn e Eddie Vedder envolvidos num mesmo projecto era por si só motivo de entusiasmo. Mesmo que não os visse na tela (um dirige, o outro... toca), era inevitável estar interessado após um “Dead Man Walking” que, para além de óptimo filme (Susan Sarandon em grande), teve o condão de me apresentar pela primeira vez os cânticos Qawwali de que fiquei fã para a vida.

A banda sonora já a conhecia desde o ano passado...
Não gostei particularmente.
Cometi o erro de escutá-la como se de um comum disco se tratasse...
Foi estranho.
Temas curtos, curtíssimos, que o próprio autor viria a dizer terem sido compostos especificamente para acompanhar determinadas cenas, o que se aceita quando se fala de uma... Banda Sonora. Enquadrada no filme já me pareceu melhor.

Este “Lado Selvagem” soube-me muito bem.
Emocionei-me, comovi-me, chorei, na maior parte das vezes com um sorriso no rosto.

A vida, quando mal usada, pode tornar-se numa arma perigosa... para o próprio e para quem com ele se cruza. Agora que penso nisso, e simplificando o processo, creio poder dizer que existem apenas três tipos de pessoas. As perigosas, as neutras e as boas... Todas capazes do melhor e do pior, de proporcionar amor e ódio, de gerar dor e prazer. A diferença entre as três estará somente na essência do indivíduo.

Os primeiros são os que se deixam tomar pelo fervor competitivo dos dias que correm e interiorizam raiva e violência como pressupostos para subsistir no mundo civilizado. Julgam gratuitamente, não aceitam a diferença e vivem sozinhos dentro de si toda uma vida, mesmo que nunca se apercebendo disso.

A grande maioria de nós vive na absoluta neutralidade de não querer, de não ter, de não saber... o que cá anda realmente a fazer. Tememos usufruir de uma existência própria, receamos ser condenados pela diferença, jamais ousaremos ultrapassar o limite... ver para além do horizonte. Somos os garantes da continuidade, os gaurdiões do templo, os pedagogos da nação, os papás e as mamãs normativos e condicionantes (Recuso o comodismo e parcialidade do anonimato e falo na primeira pessoa do plural... NÓS!!).

Outros vivem em respeito consigo e em comunhão com os outros. Constroem dia a dia o seu intelecto, enriquecem-se enquanto seres humanos com os fundamentos que parecem ser intrínsecos ao próprio conceito de estar vivo. Tornam-se inspiradores e apaixonantes!!

Andam por aí, cumprem a sua missão, vivem a sua própria vida, pouco importados em seduzir quem os observa.

Que os descubra quem for capaz.

1 comentário:

Brown Eyes disse...

Interessante este teu post;muito interessante mesmo. Em primeiro lugar "felicito-te" por teres o mesmo hábito que eu, sentando-te no chão com as costas encostadas ao sofá a ver televisão e a ouvir música. Em segundo lugar felicito-te pela escolha da banda sonora desta madrugada - ter Ella Fitzgerald por companhia no dia certo pode transformar um qualquer serão numa noite de retemperamento de forças. A voz e as músicas d'Ella são mágicas.
E por fim a tua identificação dos 3 tipos de pessoas. Num universo tão vasto encontraste aqueles subgrupos, nunca tinha pensado nisso, mas faz sentido.E que a demanda por aquelas pessoas que têm o tal "brilho" seja uma concretização e não apenas um objectivo.

Fica bem
BE