quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Regresso

ou, "Como a curiosidade pode matar"

I've felt you coming girl, as you drew nearI knew you'd find me, cause I longed you hereAre you my desitiny? Is this how you'll appear?Wrapped in a coat with tears in your eyes?Well take that coat babe, and throw it on the floorAre you the one that I've been waiting for?As you've been moving surely toward meMy soul has comforted and assured meThat in time my heart it will reward meAnd that all will be revealedSo I've sat and I've watched an ice-age thawAre you the one that I've been waiting for? Out of sorrow entire worlds have been builtOut of longing great wonders have been willedThey're only little tears, darling, let them spillAnd lay your head upon my shoulderOutside my window the world has gone to warAre you the one that I've been waiting for?O we will know, won't we?The stars will explode in the skyO but they don't, do they?Stars have their moment and then they dieThere's a man who spoke wonders though I've never met himHe said, "He who seeks finds and who knocks will be let in"I think of you in motion and just how close you are gettingAnd how every little thing anticipates youAll down my veins my heart-strings callAre you the one that I've been waiting for?


Nick Cave, "Are you the one that I´ve been waiting for".

sexta-feira, 21 de março de 2008

É só mais um

ou, "quase nada"

Mais um dia que acaba. Mais um que se esfuma e apaga ao passar pelos meus dedos.
Invariavelmente, vasculho as cinzas da memória com os olhos postos no cinzeiro.
É nele que projecto os meus últimos minutos de cada dia. Sei que existem melhores telas na minha sala mas já concluí que no meu caso o tabaco, para além do óbvio vício de pulmão, é hábito de mão e fraqueza de olhar. Fumo porque, ao fim de todos estes anos, ainda preciso de uma desculpa para poder manter a cabeça baixa. Fumo de olhos postos nas cinzas de onde acredito ter nascido e para onde sei estar condenado a regressar. É nelas que me sinto protegido e aconchegado.

Hoje, como ontem, ou em qualquer outro dia antecedente que tenha resistido à erosão do esquecimento, nada de especial se impõe arquivar. Nem vou perder tempo a tentar descrever um amontoado de banalidades com as quais as vossas vidas estarão, certamente, carregadas. No meio de todas elas sobram as minhas rotinas, as que ainda não sucumbiram por vergonha aos pés de um qualquer anúncio de televisão.

Acordo às 7:00 da manhã, sete dias por semana. Aos Sábados, Domingos e em feriados nacionais, os únicos que são dados na empresa, acordo à mesma hora mas obrigo-me a permanecer na cama, durante mais duas, invariavelmente de olhos abertos. Aproveito o gesto de desligar o despertador para pegar no maço de tabaco da mesa-de-cabeceira e acender o primeiro cigarro. Visto o roupão, calço as pantufas e vou à cozinha acender o esquentador e ligar a máquina do café. Etapa seguinte: Casa de banho. Acendo a luz mas não entro. Volto à cozinha e dirijo-me à janela para confirmar se os meteorologistas acertaram na previsão. Dou comida ao gato, apago o cigarro, tomo banho, faço a barba, visto-me e tomo o pequeno-almoço ouvindo as notícias na rádio. Ouço sempre as notícias na rádio.

Uma destas noites, como a de hoje, de olhos postos no cinzeiro, decidi iniciar um processo de mudança radical na minha vida. Compreendi que a doutrina rígida que teorizava a minha existência estava a tornar-me escravo de mim mesmo. Impunha-se uma manifestação de poder voltada para dentro... um acto de irreverência irreflectida, um devaneio exibicionista determinado a mostrar que ainda sou eu quem segura as rédeas. Na manhã seguinte inundei o lavatório com sangue ao tentar fazer a barba antes do banho. Perdi o comboio de sempre e acabei por ter um dia em que me senti invulgarmente desequilibrado e desconfortável.

Compreendi que são pequenas as coisas que nos pertencem realmente. A casa que habito não é minha, o carro que não tinha já vendi... e nem os dentes que ajudam os lábios a segurar o filtro do cigarro são todos meus em resultado de uma noite de pancadaria há mais de 10 anos atrás. Puta de vida!

O clarão da chama que alimenta mais um cigarro incendiou o rastilho da minha alma com um súbito desejo de pintar. Este tipo de provocação, anarca, com o único propósito de desequilibrar o que já tenho de instável, cuja fonte subversiva ainda não me foi possível identificar, não era ocorrência virgem ou anormal. Anormal, diria, estúpido mesmo, é pensar em pintar todas as noites e já terem passado mais de 6 anos desde que sujei a última tela. A minha última obra é do século passado, pensei.

A pensar em tintas, e nas razões que inventara, de mim para mim, para me poder manter enfiado no sofá, adormeci. Iniciei uma viagem por páginas de jornais sujas e usadas, já gastas de tão sorvida ter sido a informação que traziam. Caras, muitas caras mascarradas com tinta preta, todas elas, e de olhares vidrados e perdidos no nada.
Vozes em coro nasciam do meu cérebro gritando “Repressão, repressão...”, ou talvez, sem que o conseguisse perceber com clareza, invocassem: “Depressão”, num compasso marcado pelo que reconheço ser o enorme relógio de ponto que me dá o primeiro “Bom Dia” de todas as manhãs. Os ecos eram já mais fortes do que as palavras pelo que a “...pressão,... pressão” me parecia cada vez mais forte e insuportável. Apercebo-me que os rostos estão agora virados para mim, no momento em que subitamente sinto o meu corpo ser arrancado do sofá. Uma luz intensamente púrpura irrompe do tecto e ilumina toda a sala. Sem que perceba porquê torno-me espectador de mim mesmo. Sentado a um canto observo o meu corpo ser suspenso por uma rede invisível, como que içado pelo tronco por uma força que consente que os membros e a cabeça se sintam abandonados. Assisto horrorizado ao triste espectáculo de me ver tomado por uma consciência, que não a minha, que me comanda a existência como uma mão que controla uma marioneta ou um fantoche. A luz inicialmente púrpura alterou a coloração do meu corpo que recebe agora, como uma tela de projecção imagens e texto a uma velocidade tal que me é impossível verificar exactamente do que tratam. A única luz presente é a que resulta da infestação a que me vejo sujeito, todo o resto da sala deixou de existir. O corpo em convulsão continua a processar a descarga e a perder a forma. Um cheiro nauseabundo invade os meus sentidos. De repente tudo parece serenar, menos o odor que é cada vez mais denso e irrespirável. Os rostos desapareceram. Constato que o corpo, em avançado estado de putrefacção se começa a decompor em partes. O que resta de um braço cai, enquanto que a parte inferior de uma das pernas se encontra apenas segura por cartilagens do joelho. A cabeça...

Acordo sobressaltado... sacudindo os dedos queimados pela ponta do cigarro.
Corro para a casa de banho e abro a torneira... deixo a água gelada de inverno escorrer-me sobre a mão.
Sinto o alívio...!

Dirijo-me para a cama onde permaneço bem acordado até o despertador dar a ordem para que me faça ao dia. Mais um... que não tem por que ser considerado novo.

Cigarro, roupão, pantufas, cozinha, esquentador, máquina do café, luz da casa de banho, cozinha, janela, comida ao gato, apagar cigarro, banho, barba, vestir, pequeno-almoço... ouvindo as notícias da rádio.

Encho um copo com água e dirijo-me ao armário da casa de banho.
Abro a gaveta de cima, como todos os dias, e retiro um da embalagem.

De volta à cozinha tomo o Prozac, arrumo o copo e faço-me à estrada que a vida não está para grandes merdas.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Mergulho

ou, "Uma súbita vontade de planar"

Cruzámo-nos algumas vezes, por aí, nas arenas da vida, e nunca me passaste despercebida.

Sempre senti que as probabilidades não estariam dispostas a jogar a meu favor.
Nem sempre o ambiente favoreceu as minhas habilidades naturais, nem sempre o espaço permitiu que estivéssemos sós, sem público... pequenos figurantes de um treino reservado para dois. Acusaste-me de ser muito defensivo, de ser incapaz de arriscar num investimento que não desse garantias de ser seguro. Afirmaste que a falta de confiança nunca me permitiu oferecer-te tudo aquilo que sempre soubeste ter para te dar.

Passaste a ser a minha obsessão, o meu alimento, um desafio diário à lógica de uma sanidade que queria manter racional, lúcida, sã... Mas não fui capaz. Apostei tudo o que tinha num caminho íngreme de desespero, sem muros de protecção, sabendo que o preço seria o abismo. Precipitei-me num jogo doentio, ofensivo a mim mesmo, de ataque continuado numa direcção onde sabia nada existir... onde sabia que já não estavas.

A loucura encontrou-me, perdido nos flancos do deserto em que se tornara a esperança de outros dias.

Estendeu-me a sua mão e com uma voz serena convidou-me a partir: " ... segue-me, quem luta por amor merece receber o dom divino."

Mergulhei no seu corpo, negro, com a certeza de que nem todas as constelações de estrelas, juntas, poderão algum dia devolver-me o calor do teu toque, o brilho dos teus olhos ou a luz do teu sorriso.

domingo, 2 de março de 2008

Desassossego

ou, "Versão silenciosa"


Consinto agora sentir e receber
o bem que me faz saber-te a sorrir
Discurso antigo, ou nada a perder,
que sai dos livros que li e dos que vou escrever
Distinta forma de entretenimento,
que instala a guerra em mim mas me preenche o tempo
Já nem me serve o ousar entender esta alma que em mim
vive em desassossego

O Vento traz até mim o teu cheiro
Que tantas Saudades me tem feito

Deixa-me sonhar, e cobrir-te de mim
Repousar a teu lado quando chegar o fim
Ser Luz na tua vida, teus olhos, paladar
Marcar-te para sempre e em ti… me procurar.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

No outro lado do muro

ou, "A outra face"


Não creio que saibas quem sou...

Sou aquele tipo estranho com quem te cruzaste hoje no metro... O dono dos olhos de morte que te trespassaram a alma. Aquele que num breve relance de olhar violou o que de mais íntimo possuis... Ou serei o charmoso que almoçou sentado a teu lado?... Sim, eu! Sei que foi comigo que sonhaste na terça-feira... Sei o quanto me queres conhecer, como anseias pelo meu toque... como estremeces com o meu sorriso. É meu o rosto que os teus olhos vêem quando se fecham tomados impulsos de prazer.

Sou o teu vizinho do lado, o que passeia o cão fazendo jogging e que por timidez desvia o olhar quando tu passas... ou serei o vizinho de cima, aquele que nunca viste... Que nunca viste, mas que todos os dias ouves cantarolar no duche... e que por isso existe, para ti.

Sou o condutor, também parado na fila de trânsito, cujo carro nunca reconheces porque todos os dias muda de cor, em quem sempre reparas nunca sabendo bem porquê. Ora porque grito ao telemóvel, ora porque buzino sem razão aparente... aquele que às vezes te parece adormecido, ou o outro que todos os dias te olha de tanto te querer engatar.

Sou eu quem troca as tuas cartas do correio, quem assina o teu cheque de ordenado... sou o primeiro amor da tua vida, sou aquele que será um dia enterrado a teu lado...


Mas diz-me: E tu?... Quem és tu afinal??!


Sou aquele que um dia se apaixonou por ti, e que no fim nada ganhou com isso. Sou aquele que disseste não ser capaz de aguentar a pressão e que por isso ultrajaste em frente de toda a empresa. Sou aquele que odeia ter que olhar para ti e que mesmo assim todos os dias diz que te ama. Sou o porco da mesa ao lado que fuma enquanto almoças... sou o mendigo que na rua te estende aquela mão que te enoja. Sou o mudo actor de novela que só dobrado pela tua voz recebe ordem para falar. Sou aquele que te acha patética, mas que se deslumbra de cada vez que te vê passar.

Sou a face oculta no outro lado do espelho, a que conhece cada detalhe da tua aborrecida rotina de todas as manhãs.
Sou alegre, astuto, cínico, bondoso, de esquerda e de direita... sou eu quem todos os dias te blasfema, mas que sabe não ter forças para conseguir viver sem ti. Sou aquele que queria viver sozinho, longe deste teu mundo, deste antigo paraíso que tornaste em local demasiado hostil para se viver.

Sou a luz que te guia e a multidão que te esconde. Sou tudo e não sou nada. Alimento-me do brilho dos teus dias, monopolizo-te, à noite, em solidão.


E tu?... Diz-me... quem és tu afinal??!


Eu sei quem sou, sou o outro... o que habita no outro lado do muro e que sobrevive condenado a levar para casa os resquícios da tua maldade, da tua falsidade, da tua hipocrisia.
Sou aquele que te julga já conhecer, mas que todos os dias consegues surpreender ao levar ainda mais abaixo os limites. Sou quem assustas e interrogas, quem persegues e acorrentas. Sou o psicopata solitário, o pai de família bonacheirão, o electricista, o bancário e o executivo solteirão. Sou a tua gargalhada à mesa com os amigos, a anedota jocosa com propósito de achincalhar.

Sou eu quem passa férias a teu lado, apesar de ser de ti que quero descansar. Sou eu quem se arrasta para festas e bailes, e a quem pisas fingindo dançar.
Sou aquele que ainda hoje guarda as cartas que escreveste, o mesmo que jurou um dia haver de te matar.


Serei a tua réstia de esperança,
A sombra negra no teu último olhar,
Será minha a voz que ouvirás no escuro,
Vinda directamente do outro lado do muro,
E que no fim de tudo te irá perguntar:

“E tu... quem julgas tu que és afinal???”

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

O Lado Selvagem

ou, "Alexander Supertramp"


01:05...
sentado no chão da sala, o sofá serve de encosto...
a Jazz dorme em cima de livros numa prateleira...
ouvimos Ella Fitzgerald...

Há muito, muito tempo que um filme não me tocava assim.
Sociedade, família, juventude, natureza, idealismo, fuga, solidão...
Planeava vê-lo desde que soube da estreia nos estados unidos.

Para mim ter a oportunidade de rever Sean Penn e Eddie Vedder envolvidos num mesmo projecto era por si só motivo de entusiasmo. Mesmo que não os visse na tela (um dirige, o outro... toca), era inevitável estar interessado após um “Dead Man Walking” que, para além de óptimo filme (Susan Sarandon em grande), teve o condão de me apresentar pela primeira vez os cânticos Qawwali de que fiquei fã para a vida.

A banda sonora já a conhecia desde o ano passado...
Não gostei particularmente.
Cometi o erro de escutá-la como se de um comum disco se tratasse...
Foi estranho.
Temas curtos, curtíssimos, que o próprio autor viria a dizer terem sido compostos especificamente para acompanhar determinadas cenas, o que se aceita quando se fala de uma... Banda Sonora. Enquadrada no filme já me pareceu melhor.

Este “Lado Selvagem” soube-me muito bem.
Emocionei-me, comovi-me, chorei, na maior parte das vezes com um sorriso no rosto.

A vida, quando mal usada, pode tornar-se numa arma perigosa... para o próprio e para quem com ele se cruza. Agora que penso nisso, e simplificando o processo, creio poder dizer que existem apenas três tipos de pessoas. As perigosas, as neutras e as boas... Todas capazes do melhor e do pior, de proporcionar amor e ódio, de gerar dor e prazer. A diferença entre as três estará somente na essência do indivíduo.

Os primeiros são os que se deixam tomar pelo fervor competitivo dos dias que correm e interiorizam raiva e violência como pressupostos para subsistir no mundo civilizado. Julgam gratuitamente, não aceitam a diferença e vivem sozinhos dentro de si toda uma vida, mesmo que nunca se apercebendo disso.

A grande maioria de nós vive na absoluta neutralidade de não querer, de não ter, de não saber... o que cá anda realmente a fazer. Tememos usufruir de uma existência própria, receamos ser condenados pela diferença, jamais ousaremos ultrapassar o limite... ver para além do horizonte. Somos os garantes da continuidade, os gaurdiões do templo, os pedagogos da nação, os papás e as mamãs normativos e condicionantes (Recuso o comodismo e parcialidade do anonimato e falo na primeira pessoa do plural... NÓS!!).

Outros vivem em respeito consigo e em comunhão com os outros. Constroem dia a dia o seu intelecto, enriquecem-se enquanto seres humanos com os fundamentos que parecem ser intrínsecos ao próprio conceito de estar vivo. Tornam-se inspiradores e apaixonantes!!

Andam por aí, cumprem a sua missão, vivem a sua própria vida, pouco importados em seduzir quem os observa.

Que os descubra quem for capaz.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Empty - Ray LaMontagne

ou, "Fecha os olhos e deixa-te ir"




She lifts her skirt up to her knees Walks through the garden rows with her bare feet, laughing I never learned to count my blessings I choose instead to dwell in my disasters Walk on down the hill Through the grass grown tall and brown And still it's hard somehow to let go of my pain On past the busted back Of that old and rusted Cadillac That sinks into this field collecting rain Will I always feel this way So empty, so estranged Of these cutthroat busted sunsets These cold and damp white mornings I have grown weary If through my cracked and dusty dimestore lips I spoke these words out loud would no one hear me Lay your blouse across the chair Let fall the flowers from your hair And kiss me with that country mouth so plain Outside the rain is tapping on the leaves To me it sounds like they're applauding us The quiet love we make Will I always feel this way So empty, so estranged Well I looked my demons in the eye Laid bare my chest said do your best destroy me See I've been to hell and back so many times I must admit you kinda bore me There's a lot of things that can kill a man There's a lot of ways to die Yes and some already dead who walk beside you There's a lot of things I don't understand Why so many people lie Well it's the hurt you hide that fuels the fires inside you

Hoje acordei e percebi que alguém levou o meu Amor

ou, "A importância de Recordar"


Já sei que dirão que fui eu que por desleixo o perdi, que o vendi nos saldos em troca de um punhado de kunami… Mas não, nem entrem por aí… Explico-vos que não, Digo-vos que não, Grito-vos que NÃO (!!!) … mas no fundo sei que só a Jazz acredita em mim.

O pior é saber que agora que o levaram ninguém me vai ajudar a encontrá-lo, ninguém me vai dizer onde ou quando o viu. Na verdade creio que por alguma razão que me escapa mesmo se soubessem não me iriam dizer que fugiu…

Hoje acordei e fiquei por minha conta… e ainda ontem Ele estava a dormir aqui.

Sinto-me roubado, desprezado, pisado, abandonado… sinto-me um chato, um emplastro, um cretino, um palhaço… de palavras caras, sisudo e acinzentado. Sinto-me lesado, humilhado, carente e enganado e sei que não vão aceitar a minha queixa na polícia, nem deixar colados os cartazes que nas ruas irei afixar… pedindo uma ajuda, uma resposta, uma pequena informação… e Eu que dava uma prenda a quem mo ajudasse a encontrar… Eu que parava o mundo para poder voltar a acordar do seu lado… de novo… com o Meu Amor.

Por norma as pessoas não sabem o quanto é importante cuidarem do seu Amor. Invocam-no aos sete ventos por ignorância, comodismo, por desrespeito pelo português. Gastam-no, sujam-no, rebaixam-no, confundem-no com uma peganhenta camada de suor… julgam poder encontrá-lo muitas vezes… a toda a hora.

Falam de Amor como quem arrota de satisfação depois de um prato de fritos, cheios do colesterol que por castigo um dia lhes fará parar o coração… Corações que não batem, latejam... uma vida inteira… aprisionados em corpos estreitos que nunca os souberam respeitar.
Emocionam-se com os relatos de Amor verdadeiro, alheio, de quem o eternizou pelas suas letras, sons, cores, formas… plagiam-No em cartões de aniversário, mensagens de e-mail, SMS´s gratuitos como se imaginassem perceber a intensidade do que se estava a falar…

Acreditam que é do Amor que se Nasce, mas saberão que também dele se pode Morrer?!!

O Amor, a mim, fez-me sentir especial. Fez-me sorrir, rir e chorar… Fez-me acreditar que de nós algo maior do que o mundo iria Nascer. Fez-me acreditar que compensa ser Bom, que A virtude é saber esperar… muito mais do que isso: que a Sinceridade e a Verdade entre nós teriam espaço para viver e durar.

Fez-me crente no presente e esperançoso num Futuro… Nosso… diferente… Melhor. Ensinou-me que tenho forças para conseguir voar, da forma que entender, até onde quiser… mas não sei se me terá ouvido quando lhe disse que sem ele, sem o meu Amor, nem sequer irei tentar. Voar…? Para onde… porquê?
Sozinho não vou! Sozinho fico (!!!) … nunca me falaste nessa história do "sozinho"... Não estou a entender… o que se passa, que justificação é esta… onde raio queres chegar? Pela primeira vez me encontro sem qualquer esperança… e como é possível que me tenhas deixado assim?!!

Sinto que o Outono arranjará maneira de apagar, ou esconder, os recados que já hoje deixei nas paredes dessas ruas onde sei que irás passar.
O Meu Amor… O Meu Amor!!! Não é justo ficar sem Ele, depois de tudo o que Lhe dei… que lógica faz tudo isto, não quero… não posso ficar sem Ele… sempre tive tanto para Lhe dar!
Hoje acordei e percebi que alguém roubou o meu Amor… mas como é que Ele se deixou levar? Quem disse que era para deixares de lutar?

Procuro, procuro… e continuarei a procurar.
Onde foi que te deixei, em que dia te perdi…


O Teu Amor

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Apeteceu-me

01:43...
estendido sobre a cama...
escutando o “Till the sun turns black” do Ray LaMontagne...

Se me perguntasses ontem se voltava a ter um blog... por impulso responderia que não.
Não significa que tenha alguma razão concreta para tal, algum motivo que o justifique, mas também não tenho nenhum argumento objectivo que me leve a responder simplesmente que sim, ou que é tudo o que mais desejo. No fundo um blog, como quase tudo o resto nesta vida, não tem que ter uma lógica de suporte. Quantas vezes nos chegou um mero e efémero: “Sim... Porque Sim!” ou um “... Apeteceu-me!”.

Era o que te diria hoje...

Penso agora no tempo que passou desde a última vez que escrevi alguma coisa e no quanto sou idiota por não o fazer com maior frequência. Será imaturidade, preguiça, má gestão de tempo, falta do que dizer...? Sim, talvez um pouco de tudo isso.

Normalmente escrevo para música, e a verdade é que acabo por sentir esses momentos, em que as palavras surgem para colorir sons, como sendo mais de criação musical do que literária. Esse processo é normalmente lento. Existe uma ideia a transmitir, a forma é pensada, repensada, apagada, rescrita, rasurada... esquecida, guardada na gaveta... uns dias, umas semanas... recuperada, rascunhada, sentida... até que um dia dia, como que por milagre, todas as palavras acabam por fazer sentido... juntas.

Quando a escrita é muda, sem estar presa a uma melodia, preocupo-me com a clareza da mensagem, com a “onda” e ritmos do texto, com as repetições, as redundâncias, com a sugestão de caminhos, construção de cenários, intensidade dramática... ou então, noutros dias, tudo passa por libertar, desabafar, exorcisar medos, expressar sentimentos, decifrar o que nos vai na alma... o que nem sempre é fácil e nos faz por vezes verter algumas lágrimas... mesmo quando já à partida se sabe que depois se estará mais disponível para sorrir... e seguir, com a lógica do conjunto.

Agora gostava que fosse diferente, de não ter esse tipo de preocupações, de lógica ou de sentido. Mais rápido, imediato, transparente, com menos reservas, menos terapêutico... O fundo é negro para evitar esbarrar no síndrome da página em branco, negro para me fazer lembrar o velho quadro da escola onde havia sempre ideias, onde se desenhava quando não se sabia o que escrever. Quero encontrar aqui um espaço de liberdade absoluta, sem restrições, ressentimentos, sem meias palavras, sem absurdas preocupações estilísticas...

Sim, é importante...
Se me perguntares dir-te-ei também que este espaço vai ser apenas meu e de quem o encontrar.